domingo, 28 de agosto de 2011

Vous parlez français?

Pois é. Os dias passaram e amanhã já vai fazer uma semana que eu fui embora do Brasil. Logo que cheguei no aeroporto de Paris, consegui me virar de boa com a língua, passei pela imigração sem problema algum e logo fui para o portão de embarque, onde esperei menos de uma hora.

Cheguei em Montpellier, peguei um táxi para o albergue e fui deixada nessa estreita rua (onde não podem passar carros, pois fica na parte antiga da cidade e só são permitidos pedestres):

No começo, bateu um desespero, eu nessa rua, com duas malas gigantes, uma mochila, uma bolsa e uma bagagem de mão, ia ter que andar até num sei aonde para chegar ao albergue da juventude! Mas aí quando olho para o lado, lá estava o Le Petite Impasse Corraterie! Uma pena que os europeus tenham uma mania de siesta, pois quando eu cheguei a recepção estava fechada. Ia fazer o que? Tinha que esperar mais duas horas, e não dava para sair da escada do alojamento por conta das malas. Aí que chegaram duas meninas alemãs e uma francesa, também cheias de bagagens e tendo que esperar.

O momento foi super oportuno, mega conversamos em francês, trocamos várias idéias e após o check in do albergue, fomos almoçar (estávamos famintas) e depois ao cinema... E tiramos fotos (Laura, eu, Lena e Lucille)! Só agora percebi que todas começam com a letra L.

No dia seguinte pela manhã pegamos um trenzinho que passava pelo centro histórico da cidade. Mas pouco depois, infelizmente a Laura e Lena voltaram para Paris (onde estudam Psicologia, coincidência né?) e a Lucille ficou, vai morar aqui para estudar artes...

No mesmo dia à tarde eu fui para a cidade universitária Triolet (onde fica meu alojamento) para ver a documentação que teria que entregar, o pagamento, enfim, todas as burocracias. E o mais legal foi que na mesma hora já me entregaram as chaves, dessa linda mansão de 20m² que estou agora!

Nesta foto, o quarto já arrumado com minhas coisas, do lado direito uma escrivaninha com meu computador e todas as coisas de estudo. Do lado esquerdo, minha pseudo cozinha (só tem um frigobar), mas já fiz algumas compras que estão lá também! No fundo a porta e o banheiro (não dá pra ver...).
Nesta outra foto minha cama e a janela!( agora sim dá pra ter a dimensão do cubículo!)


Dessa foto dá para ver o banheiro (parece de navio)!

ENFIM MEU APÊ É PEQUENO PORÉM CONFORTÁVEL!

Depois de receber as chaves do apartamento iniciei o processo de mudança! Uff nesse dia perdi uns 3kg! Eu, com tavira lifestyle, não peguei um táxi, porque ia sair muito caro! Do albergue para a cidade universitária é só pegar um metrô, um ônibus e andar 1 quarterão, depois andar no condomínio (mais ou menos do tamanho do Láife Rizórti Cérvice do Guilherme - meu prédio é lá no final) e subir 3 escadas (bloco G apartamento 49)! UFA! Pense num dia cansativo... Fiquei um dia inteiro toda por conta da mudança, descarregando mala e arrumando o apartamento.  No dia seguinte fui ao mercado comprar cabo de internet, papel higiênico, toalha e algumas comidas.

Depois de tantas burocracias a se resolver, cá estou eu, devidamente alojada, com casa arrumada e com a despensa cheia HAHAH!

Hoje aproveitei o domingo ensolarado para dar uma volta pela cidade, fui andando até o centro histórico, na  Place de la Comédie, onde almocei, tirei algumas fotos, deitei na grama, fui ao shopping, passeei...



No final do passeio, já a caminho de casa, recebi a notícia da Cinthia (uma de minhas melhores amigas), que avó dela havia falecido (já estava com câncer terminal). Daí vim pensando e refletindo sobre a questão e escrevi uma carta para ela, que compartilho aqui:

Hoje o dia alvoreceu ensolarado. Essa brisa seca que arde por dentro, quente, não ousaria negar que o sol estava lá.  E haveria sido um domingo de calor qualquer, não houvesse amanhecido nublado. Injusta interposição essa que confunde céu ensolarado com nuvens carregadas. Eu sei - todos sabemos - o céu se abriu, mas o tempo está fechado. É engraçado pensar que mesmo nesse nebuloso dia, o céu fez-se ensolarado. Eu jamais haveria notado a ironia da natureza, se o céu não estivesse aberto justamente para quem o tempo fechou.
A natureza é mesmo misteriosa, sarcástica. Definitivamente jocosa. Ela dá-nos a incrível oportunidade de chegarmos até aqui sem nada, sairmos com quase nada, mas sempre cheios. Alguns saem lotados de afazeres, abarrotados de trabalho, bastante ocupados. Há também quem acumule conhecimento, tempo, sabedoria. Todavia tem aqueles que colecionam riquezas, dinheiro, muito dinheiro. Outros se vão embebidos em beleza, olhares e glória. Muitos juntam os anos, pegam carona com o cansaço e se despedem cheios de idade.
Afortunados mesmo, eu diria, são aqueles que partem cheios de amor. Felizes são aqueles que tiveram a oportunidade de dar e receber esse nobre sentimento, abstrato, imperecível. O resto todo – o trabalho, a sabedoria, as riquezas, a beleza, a glória e o tempo – parecem apenas temperar a existência, mas o que funda mesmo, o que dá base e sentido ao fenômeno vida, o que preenche lacunas e assume todas as formas, é somente o amor. Porque o resto todo se esvai quando finda a vida. Já o amor, em seu formato diluído, é o que fica. E quem foi que disse que a matéria viva é determinantemente necessária para que haja existência? Eu, sobretudo neste dia, diria que o que precede a existência é a essência. O amor.
Pois é, essa irônica existência, por vezes, brinda alguns com a chance imediata de ir embora carregados de amor, não aquele que se supõe, pelo aspecto protocolar das relações. Mas do amor óbvio, que se faz declarado, explícito. Amor que pressupõe o cuidado e que tem fim em si mesmo. Para esses que, a despeito do sofrimento dos outros, por terem seu fim anunciado, tem a fantástica experiência de viver seus últimos momentos sob uma única certeza: a de serem terem amado muito. Essa experiência estrondosa, de ter acesso ao acaso declarado, fornece também grande oportunidade aos que ficam, de se entregar de modo sublime ao amor, apesar dos apesares. De reconstituir relações, perdoar, cuidar, acarinhar e viver a essência.
E se a essência é o amor, se é esse sentimento que funda a vida, que possamos compartilhá-lo, para que tenhamos sempre certeza de sua presença. E assim quem sabe, a despeito de nuvens carregadas, possamos sentir o calor do sol acariciando nossa existência.

Bom, termino assim o meu post! Abraços à todos que amo e beijos!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

De Brasília para Montpellier

Cá estou eu em Montpellier! Depois de 8434 km percorridos, de BRASÍLIA para MONTPELLIER, já com algumas histórias para contar... É muita emoção para uma pessoa só! Ainda bem, por enquanto, eu ainda posso dizer: " no final dá tudo certo!"

Mas nem tudo começou uma maravilha, claro. Se é minha vida, tem que ter uma aventura! Já no aeroporto de Brasília começou a zica... Fazendo o check in da TAM, tive que pagar excesso de bagagem afinal o vôo era nacional (BSB-SP). Como se eu fosse pra São Paulo por puro lazer ¬ ¬
Enfim, minhas duas opções eram: pagar ou ficar! Se eu já estou aqui é porque eu paguei, e caro! Mas tudo bem, no final estavam me esperando uma linda cidade e antes disso uma confortável poltrona...

Ainda no vôo nacional, num daqueles momentos desesperadores de turbulência, me bateu um sentimento no mínimo irônico... Deixe-me explicar: lá estava eu, e mais um bando de pastores (que iam rumo à um congresso religioso), num mesmo vôo, em plena turbulência. Se o avião cai e acontece algo pior, eu me perguntaria: "à quem o senhor Deus está punindo?" Eu poderia pensar que, pelo maior peso (de almas) exercida pelos pastores, a minha simples alma alí sozinha não faria a menor diferença. MAS, como eu sou uma pessoa demasiadamente empírica, e não acredito em nada disso, eu somente ri, pensando que isso poderia render uma boa piada.

Chegando em SP, eu tinha ainda umas 6 hrs de espera, mas mesmo quando se pensa que se tem muito tempo, isso pode não ser o suficiente! Bom, como tinha que rolar um frio na barriga, um medinho de não dar certo, eis que me veio o momento 'Murphy me ama!'

Ao fazer o check in da Air France, a atendente me olha com uma cara de "o que você está fazendo aqui?", e me diz: "Senhóóóra, não foi emitido bilhete eletrônico no seu número de resééérva."
Eu nem me preocupei, ora, se não foi emitido bilhete, EMITA-O! Mas a situação não era tão simples quanto eu podia esperar. No sistema constava que não havia sido feito pagamento. E aí sim, bateu um desespero! A passagem tinha sido acertada pela internet, e até então estava tudo certo. Mas, como eu tenho um sangue Tavirense, eu logo pensei: " fui vítima de um golpe da internet, perdi o dinheiro, etc." Nada que uma ligação desperada e chorando para dona Bete (mamãe) não resolvesse!

Voilá! Tudo certo em questão de algumas horas... Aliás, esse trâmite de ter que pagar passagem fez com que eu chegasse no portão de embarque bem em cima da hora, e acabei sendo uma das últimas pessoas a entrar no avião. No começo eu pensei: "que droga, o avião já tá cheio de gente nem vai ter lugar para colocar minhas bagagens de mão". Mas eu só pensei isso, porque não sabia o que me aguardava:


Sim, eu dei uma de madame très chic e viajei de PRIMEIRA CLASSE! Quando cheguei no avião, logo no início, vi que a primeira classe estava vazia. Como eu fui praticamente a última a passar pelo portão de embarque, e como eu sou uma pessoa que tem cara de pau, sentei linda na POLTRONA G12. Como eu continuo sendo tavira way of life, cada comissário que passava, eu pensava: "já era, vão pedir meu bilhete, vão ver que estou no lugar errado e será uma humilhação pública!"

Mas o medo logo passou quando a aeromoça perguntou: "Mademoiselle, vous acceptez un champagne?". Eu fiz meu UFA, e fiquei com um suco de laranja (em homenagem à família Mends!)

O que eu poderia dizer, afinal, o que tem de demais numa poltrona duplamente acolchoada, totalmente reclinável, com massagem e aquecedor embutidos? E daí se eu tinha uma mesa só pra mim, com apoio de pé, abajour pessoal, televisão com filmes, séries de tv, documentários, rádio, video-game e áudio livros? O importa se eu tinha à minha disposição um kit viagem (com hidratante, pente para cabelo, escova e pasta de dente, tapa olho, toalha, meias, tapa ouvido, espelho e  luvas)? O que há de incrível em ter uma colcha e um travesseiro bons de verdade, num espaço só meu onde até posso esticar as pernas? Isso tudo seria muito pouco se quando eu tivesse tirado meu casaco não tivesse aparecido um comissário de bordo com um cabide pronto para pendurá-lo! Isso tudo não seria nada se não tivesse me sido servido um jantar digno de Piantella! Eu recebi um menu com várias opções de prato, e simples assim, um jantar de rainha! De entrada Foie Gras com Syrup de maça e gengibre (claro que eu nem provei, porque tinha carne, mas fiz cara de blasé, como que acha isso comida de pobre!). Mas depois veio uma salada de berinjela, e no prato principal risoto de cogumelos! Ainda tinha mousse de gianduia de sobremesa... Mas é claro que no meu estômago só cabiam uma garfada de cada! Heheheheh mas valeu cada dentada! Ainda bem, se não já estava com mais 3kg!

Depois de voar super chique na primeira classe, demorou para as outras coisas terem graça... enfim! Cheguei em Paris, peguei um vôo de conexão para Montpellier (aí eu voltei para a realidade econômica), e cá cheguei!
No próximo post eu conto como foi minha chegada na cidade, meu alojamento e primeiras impressões...
Beijosss Família linda!