Cheguei em Montpellier, peguei um táxi para o albergue e fui deixada nessa estreita rua (onde não podem passar carros, pois fica na parte antiga da cidade e só são permitidos pedestres):
No começo, bateu um desespero, eu nessa rua, com duas malas gigantes, uma mochila, uma bolsa e uma bagagem de mão, ia ter que andar até num sei aonde para chegar ao albergue da juventude! Mas aí quando olho para o lado, lá estava o Le Petite Impasse Corraterie! Uma pena que os europeus tenham uma mania de siesta, pois quando eu cheguei a recepção estava fechada. Ia fazer o que? Tinha que esperar mais duas horas, e não dava para sair da escada do alojamento por conta das malas. Aí que chegaram duas meninas alemãs e uma francesa, também cheias de bagagens e tendo que esperar.
O momento foi super oportuno, mega conversamos em francês, trocamos várias idéias e após o check in do albergue, fomos almoçar (estávamos famintas) e depois ao cinema... E tiramos fotos (Laura, eu, Lena e Lucille)! Só agora percebi que todas começam com a letra L.
No dia seguinte pela manhã pegamos um trenzinho que passava pelo centro histórico da cidade. Mas pouco depois, infelizmente a Laura e Lena voltaram para Paris (onde estudam Psicologia, coincidência né?) e a Lucille ficou, vai morar aqui para estudar artes...
No mesmo dia à tarde eu fui para a cidade universitária Triolet (onde fica meu alojamento) para ver a documentação que teria que entregar, o pagamento, enfim, todas as burocracias. E o mais legal foi que na mesma hora já me entregaram as chaves, dessa linda mansão de 20m² que estou agora!
Nesta foto, o quarto já arrumado com minhas coisas, do lado direito uma escrivaninha com meu computador e todas as coisas de estudo. Do lado esquerdo, minha pseudo cozinha (só tem um frigobar), mas já fiz algumas compras que estão lá também! No fundo a porta e o banheiro (não dá pra ver...).
Nesta outra foto minha cama e a janela!( agora sim dá pra ter a dimensão do cubículo!)
Dessa foto dá para ver o banheiro (parece de navio)!
ENFIM MEU APÊ É PEQUENO PORÉM CONFORTÁVEL!
Depois de receber as chaves do apartamento iniciei o processo de mudança! Uff nesse dia perdi uns 3kg! Eu, com tavira lifestyle, não peguei um táxi, porque ia sair muito caro! Do albergue para a cidade universitária é só pegar um metrô, um ônibus e andar 1 quarterão, depois andar no condomínio (mais ou menos do tamanho do Láife Rizórti Cérvice do Guilherme - meu prédio é lá no final) e subir 3 escadas (bloco G apartamento 49)! UFA! Pense num dia cansativo... Fiquei um dia inteiro toda por conta da mudança, descarregando mala e arrumando o apartamento. No dia seguinte fui ao mercado comprar cabo de internet, papel higiênico, toalha e algumas comidas.
Depois de tantas burocracias a se resolver, cá estou eu, devidamente alojada, com casa arrumada e com a despensa cheia HAHAH!
Hoje aproveitei o domingo ensolarado para dar uma volta pela cidade, fui andando até o centro histórico, na Place de la Comédie, onde almocei, tirei algumas fotos, deitei na grama, fui ao shopping, passeei...
No final do passeio, já a caminho de casa, recebi a notícia da Cinthia (uma de minhas melhores amigas), que avó dela havia falecido (já estava com câncer terminal). Daí vim pensando e refletindo sobre a questão e escrevi uma carta para ela, que compartilho aqui:
Hoje o dia alvoreceu ensolarado. Essa brisa seca que arde por dentro, quente, não ousaria negar que o sol estava lá. E haveria sido um domingo de calor qualquer, não houvesse amanhecido nublado. Injusta interposição essa que confunde céu ensolarado com nuvens carregadas. Eu sei - todos sabemos - o céu se abriu, mas o tempo está fechado. É engraçado pensar que mesmo nesse nebuloso dia, o céu fez-se ensolarado. Eu jamais haveria notado a ironia da natureza, se o céu não estivesse aberto justamente para quem o tempo fechou.A natureza é mesmo misteriosa, sarcástica. Definitivamente jocosa. Ela dá-nos a incrível oportunidade de chegarmos até aqui sem nada, sairmos com quase nada, mas sempre cheios. Alguns saem lotados de afazeres, abarrotados de trabalho, bastante ocupados. Há também quem acumule conhecimento, tempo, sabedoria. Todavia tem aqueles que colecionam riquezas, dinheiro, muito dinheiro. Outros se vão embebidos em beleza, olhares e glória. Muitos juntam os anos, pegam carona com o cansaço e se despedem cheios de idade.Afortunados mesmo, eu diria, são aqueles que partem cheios de amor. Felizes são aqueles que tiveram a oportunidade de dar e receber esse nobre sentimento, abstrato, imperecível. O resto todo – o trabalho, a sabedoria, as riquezas, a beleza, a glória e o tempo – parecem apenas temperar a existência, mas o que funda mesmo, o que dá base e sentido ao fenômeno vida, o que preenche lacunas e assume todas as formas, é somente o amor. Porque o resto todo se esvai quando finda a vida. Já o amor, em seu formato diluído, é o que fica. E quem foi que disse que a matéria viva é determinantemente necessária para que haja existência? Eu, sobretudo neste dia, diria que o que precede a existência é a essência. O amor.Pois é, essa irônica existência, por vezes, brinda alguns com a chance imediata de ir embora carregados de amor, não aquele que se supõe, pelo aspecto protocolar das relações. Mas do amor óbvio, que se faz declarado, explícito. Amor que pressupõe o cuidado e que tem fim em si mesmo. Para esses que, a despeito do sofrimento dos outros, por terem seu fim anunciado, tem a fantástica experiência de viver seus últimos momentos sob uma única certeza: a de serem terem amado muito. Essa experiência estrondosa, de ter acesso ao acaso declarado, fornece também grande oportunidade aos que ficam, de se entregar de modo sublime ao amor, apesar dos apesares. De reconstituir relações, perdoar, cuidar, acarinhar e viver a essência.E se a essência é o amor, se é esse sentimento que funda a vida, que possamos compartilhá-lo, para que tenhamos sempre certeza de sua presença. E assim quem sabe, a despeito de nuvens carregadas, possamos sentir o calor do sol acariciando nossa existência.
Bom, termino assim o meu post! Abraços à todos que amo e beijos!